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Este blog está a ser desenvolvido por alunos do 3º Ano de Farmácia, do Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito da Unidade Curricular Farmacoterapia I. Neste espaço pretendemos abordar, ao longo do semestre, informação útil acerca de Infecções Fúngicas, nomeadamente as suas caracterizações patológicas e respectivos tratamentos farmacológicos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Micoses Cutâneas

Onicomicoses

A onicomicose é uma infecção que atinge as unhas, causada por fungos.  As fontes de infecção podem ser o solo, animais, outras pessoas ou objectos contaminados. As unhas mais comumente afetadas são as dos pés, pois o ambiente húmido, escuro e aquecido, encontrado dentro do calçado fechado, favorece o seu crescimento. Além disso, a queratina, substância que forma as unhas, é o "alimento" dos fungos.

  • Sintomatologia

Existem várias formas de manifestação das onicomicoses. Veja abaixo alguns dos tipos mais frequentes:   

  • Descolamento da borda livre:  a unha descola do seu leito, geralmente iniciando pelos cantos e fica ôca. Pode haver acumulação de material sob a unha. É a forma mais frequente.  
  • Espessamento:  as unhas aumentam de espessura, ficando endurecidas e grossas. Esta forma, pode ser acompanhada de dor e levar ao aspecto de "unha em telha" ou "unha de gavião".
  • Leuconíquia:  manchas brancas na superfície da unha.  
  • Destruição e deformidades:  a unha fica frágil, quebradiça e ficando deformada. 
  • Paroníquia ("unheiro"):  o contorno ungueal fica inflamado, dolorido, inchado e avermelhado e, por consequência, altera a formação da unha, que cresce ondulada e com alterações da superfície.
  • Paroníquia ("unheiro"):  o contorno ungueal fica inflamado, dolorido, inchado e avermelhado e, por consequência, altera a formação da unha, que cresce ondulada e com alterações da superfície.
Manifestação dos vários tipos de onicomicoses

  • Diagnóstico

O exame mais utilizado para confirmar a infecção, num paciente com quadro sugestivo, consiste na raspagem da unha acometida e exame do material por microscopia após adição de hidróxido de potássio a 10% ou a 20% e o isolamento dos organismos em cultura.


  • Tratamento

Os medicamentos utilizados para o tratamento podem ser de uso local, sob a forma de cremes, soluções ou vernizes. Casos mais avançados podem necessitar de tratamento via oral, sob a forma de comprimidos. Os sinais de melhora demoram a aparecer, pois dependem do crescimento da unha, que é muito lento. As unhas dos pés podem levar cerca de 12 meses para se renovar totalmente e o tratamento deve ser mantido durante todo este tempo. A persistência é fundamental para o sucesso do tratamento.  

Micoses Cutâneas

Dermatofitose

As dermatofitoses, ou tinhas, são micoses superficiais provocadas por fungos queratinofílicos chamados dermatófitos, que englobam os géneros Epidermophyton,  Microsporum e Trycophyton. Os dermatófitos são fungos filamentosos, que formam hifas organizadas em micélios. Alimentam-se da proteína humana queratina. Infectam os tecidos superficiais constituídos por células mortas e queratinizadas, como as da pele,  pêlos  (incluindo cabelo) e unhas, mas não afectam os tecidos vivos.

Há três géneros relacionados de dermatófitos:
1.   Trichophyton: as espécies mais importantes são T. Tonsurans,  T. Mentagrophytes,  T. Rubrum e T. Shoenleinii.
2.   Microsporum: as espécies mais frequentes são M. Audouinii,  M. Canis,  M. Gypseum.
3.   Epidermophyton:  E. Floccosum.

  • Sintomatologia


As dermatofitoses manifestam uma ampla variedade de apresentações clínicas, que podem ser afectadas por factores como as espécies de dermatófitos, a quantidade de inóculo, o local da infecção e a condição imune do hospedeiro. Qualquer manifestção patológica pode resultar de várias espécies de dermatófitos.

1.   A Tinea corporis: afecta a pele sem pêlos do corpo. É a que possui mais incidência, sobretudo nas pessoas mais obesas. Causada pelos fungos M. Canis ouT.mentagrophytes.
2.   A Tinea pedis  (o vulgar "pé-de-atleta"), caracterizada por lesões vesiculosas a nível dos espaços interdigitais ou lesões com escamação nas regiões plantares do pé. Causada pelas espécies T.rubrum,  T.mentagrophytes ou E.floccosum.
3.   A Tinea Cruris, caracterizada por lesões eritemato-escamosas (vermelhas) a nível das regiões inguinais (zona dos genitais).
4.   A Tinea unguium: tinha das unhas, pode ser causada por quase todas as espécies de dermatófitos e as lesões apresentam um aspecto variável, desde simples manchas esbranquiçadas a espessamentos com destruição da lâmina externa da unha e hiperqueratose subungueal (unha amarela grossa).
5.   A Tinea barbae é causada por agentes dermatófitos zoofílicos (de animais) e a sua incidência, além de baixa é quase exclusiva de meios rurais. As lesões são localizadas na face, na zona com barba e podem ser superficiais (anulares com bordos vesiculo-pustulosos) ou profundas (massas nodulares infiltradas de cor vermelho-arroxeada).
6.   As Tinea capitis tem como agente etiológico T. Schoenleinii surge em qualquer idade e é caracterizada pelo aparecimento de placas escamo-crostosas de cor amarelada, em forma de favo e com o "cheiro a rato". Leva à queda do cabelo e pelada definitiva.
7.   A Tinea tonsurante tricofítica tem como agentes T. Tonsurans,  T. Violaceum e T. Rubrum, e é caracterizada pelo aparecimento de muitas mas pequenas placas onde o cabelo cai (as placas contêm os cotos do cabelo tonsurado). Estes voltarão a crescer, pois a tinha evolui para a cura espontânea, normalmente na puberdade, embora possa vir a persistir no adulto.
8.   A Tinea tonsurante microscópica tem como agentes M. Canis e M. Audouini, e surge de uma forma muito contagiosa, principalmente nos jovens. É caracterizada pelo aparecimento de placas grandes e de limites circulares, ao nível das quais a tonsura é total. Cura espontaneamente na puberdade sem deixar vestígios.

  • Diagnóstico


O diagnóstico laboratorial das dermatofitoses conta com a demonstração das hifas fúngicas pela microscopia directa de amostras de pele, cabelo, ou unha e o isolamento dos organismos em cultura.

  • Tratamento

As infecções dermatofíticas que são localizadas e não afectam o pêlo ou as unhas, em geral, podem ser tratadas efectivamente com agentes tópicos; todos as outras requerem terapia oral. Os agentes tópicos incluem azóis (miconazol, clotrimazol, econazol, tioconazol, e itraconazol), terbinafina e haloprogina. A pomada de Whitfield (ácido benzóico e salicílico) é um óptimo agente contra dermatofitoses, porém a resposta é, em geral, mais lenta do que com agentes antifúngicos específicos.
Os agentes antifúngicos orais com actividade sistémica contra dermatófitos incluem griseofulvina, itraconazol, fluconazol e terbinafina. Os azóis e a terbinafina são mais rápidos e amplamente eficazes que a griseofulvina.

Micoses Superficiais

Piedra Negra

A Piedra negra é uma infecção superficial do pêlo, o agente causal desta patologia é Piedraia hortae. Este organismo é bastante incomum e tem sido reportada em áreas tropicais da América Latina e África Central. O seu desenvolvimento está directamente relacionado com a falta de higiene.

  • Sintomatologia

Manifestação de Piedra negra
Esta patologia apresenta-se como pequenos nódulos negros que ficam em torno do da haste do pêlo. É assintomática e envolve, geralmente, os pêlos do couro cabeludo. A massa das hifas é presa por uma substância semelhante ao cimento e contém ascos e ascósporos.

  • Diagnóstico

O exame do nódulo revela hifas pigmentadas e ramificadas presas por uma substância semelhante ao cimento. O fungo P. hortae pode ser cultivado em meio micológico de rotina.

Visualização microscópica de P. hortae

  • Tratamento

O tratamento da piedra negra é facilmente feito por um corte de cabelo e lavagens regulares.

Micoses Superficiais

Piedra Branca

A Piedra branca é uma infecção superficial do pêlo, causada pelos fungos leveduriformes do género Trichosporon: T. inkin, T. beigelli ou T. mucoides. É caracterizada pela formação de nódulos em volta do cabelo de cor clara e consistência macia. Ocorre principalmente em regiões tropicais e sbtropicais e está directamente relacionada com a falta de higiene.

  • Sintomatologia

Esta patologia afecta os pêlos das virilhas e das axilas, o fungo fica em redor da haste do pêlo e forma um nódulo branco a castanho ao longo do fio de cabelo. Os nódulos são macios e pastosos e podem ser facilmente removidos se forem puxados em direcção à ponta do fio de cabelo. Esta infecção não danifica a haste do pêlo.

  • Diagnóstico

Após a realização do exame microscópico, se este revelar hifas, artroconídios e /ou leveduras com brotamento, o pêlo infectado deve ser colocado em meio micológico sem cicloeximida (a cicloeximida inibe o Trichosporon spp.). O Trichosporon spp. forma colónias enrugadas, secas e de coloração creme, após 48 a 72 horas de incubação á temperatura ambiente. As várias espécies de Trichosporon podem ser identificadas da mesma maneira com outros isolados de leveduras.  
  
Visualização microscópica de Trichosporon spp

  • Tratamento

O tratamento pode ser realizado com azóis para aplicação tópica. Apesar da melhoria nos hábitos de higiene e a depilação do pêlo infectado refutar a necessidade de tratamento clínico. 

Micoses Superficiais

Tinea Nigra

A tinea nigra é uma feoifomicose superficial causada pelo fundo negro, Hortaea werneckii (ex- Exophiala werneckii). As crianças e os adultos jovens são mais frequentementes afectados, com maior incidência no sexo feminino. Esta patologia tem maior prevalência nas regiões tropicais ou subtropicais 

  • Sintomatologia

A Tinea nigra aparece como mácula solitária, irregular, pigmentada (castanha a negra), geralmente nas palmas das mãos, plantas dos pés e/ou bordas dos dedos.
Manifestação típica de Tinea nigra

  • Diagnóstico

Este tipo de micose é facilmente diagnosticado por exame micorcópico das escamações da pele colocadas em hidróxido de potássio a 10% ou a 20%. As hifas pigmentadas e as formas de leveduras são confinadas às camadas externas do estracto córneo e são facilmente detectadas em cortes corados pela hematoxilina e eosina.
Visualização microscópica de hortaea werneckii

  • Tratamento

A resolução espontânea é rara. Uma abordagem mais conservadora usando a combinação de preparações queratolíticas com antifúngicos tópicos são igualmente eficazes.  Curiosamente, o uso tópico da droga antiparasitária, tiabendazol, também tem sido relatado como útil, assim como agentes antifúngicos sistémicos como itraconazol e terbinafina, podem, eventualmente, não ser necessários.

Micoses Superficiais

Pitiríase versicolor

Também vulgarmente conhecida como "micose da praia" ou "pano branco", a Pitiríase versicolor é uma micose que, ao contrário do que se pensa, não é adquirida na praia ou piscina. O fungo (Pityrosporum orbiculare, anteriormente designado por Malassezia furfur) causador da doença habita a pele de todas as pessoas e, em algumas delas, é capaz de se desenvolver causando a doença. As áreas de pele mais oleosa, como a face e a porção superior do tronco são as mais frequentemente atingidas. Dado que este fungo se desenvolve com maior facilidade a temperaturas elevadas e em condições de humidade, a pitiríase costuma manifestar-se particularmente no Verão, em pessoas sensíveis, visto que o seu aparecimento é favorecido pelos suores excessivos.


  • Sintomatologia
Manifestação típica de Pitiríase versicolor
A manifestação típica desta doença corresponde ao aparecimento de uma série de manchas que se localizam essencialmente no peito, ombros, costas, braços, pescoço ou face (áreas mais oleosas da pele). Embora estas manchas tenham a tendência para serem pequenas e apresentarem limites difusos, com o passar do tempo, costumam com alguma frequência unir-se entre si, revestindo superfícies mais extensas. Além disso, a epiderme das zonas afectadas descama-se com muita facilidade e, por vezes, as manchas provocam ardor.
A característica que mais evidencia a doença é a alteração, com o passar do tempo, da cor das manchas, o que justifica o facto de a doença denominar-se "versicolor". Na maioria dos casos, as manchas têm uma tonalidade mais clara do que a pele saudável à sua volta, já que o Piiyros- poron orbiculare perturba a passagem dos raios solares que produzem melanina, o pigmento cutâneo. Ainda que, normalmente, sejam manchas rosas ou castanhas, em alguns casos, são brancas ou amarelas.


  • Diagnóstico
Visualização microscópica Pityrosporum orbiculare
O diagnóstico laboratorial é feito pela visualização directa dos elementos fúngicos no exame microscópico das escamas epidérmicas em hidróxido de potássio a 10%. Os organismos são, geralmente, numerosos e podem ser visualizados com coloração pela hematoxilina e eosina ou pelo método do ácido periódico de Schiff. As lesões também apresentam fluorescência quando expostas à lâmpada de Wood.


  • Tratamento
Normalmente, esta infecção trata-se com agentes tópicos com sulfureto de selénio (2%), terbinafina ou outros antifúngicos como o cotrimazol, econazol, miconazol ou tioconazol. As recidivas são comuns podendo ser necessário repetir o tratamento. Nos casos mais severos, ineficácia ou intolerância ao tratamento tópico, torna-se útil o recurso ao tratamento oral. Em geral, obtém-se uma boa resposta com itraconazol (200mg/dia durante 7 dias) ou cetaconazol.

Micoses Superficiais, cutâneas e subcutâneas

Micoses Superficiais, cutâneas e subcutâneas

As infecções fúngicas da pele e das estruturas cutâneas são extremamente comuns. Estas infecções podem ser classificadas, em geral, por estruturas que os fungos colonizam ou invadem:

  • Micoses superficiais são limitadas às camadas mais externas da pele e do cabelo;
  • Micoses cutâneas são infecções que envolvem as camadas mais profundas da epiderme e seus tegumentos, o cabelo e as unhas;
  • Micoses subcutâneas envolvem derme, tecidos subcutâneos, músculo e fáscias.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Feoifomicose Subcutânea



A feoifomicose é um termo utilizado para descrever uma ordem heterogénea de infecções fúngicas causadas por fungos pigmentados ou demaciáceos presentes no tecido como hifas irregulares. Estas infecções podem ser causadas por uma ampla variedade de fungos, todos os quais existentes na natureza como saprófitas do solo, da madeira e vegetação em decomposição. Os processos feoifomicóticos podem ser superficiais, subcutâneos ou profundamente invasivos.




Sintomatologia


Geralmente esta infecção apresenta-se como um cisco inflamatório solitário. As lesões ocorrem maioritariamente nos pés e pernas. Crescem lentamente e expandem-se num período de meses ou anos e geralmente são indolores. Se localizada próxima de uma articulação, pode ser confundida com um cisto sinovial e podem dificultar os movimentos.


Manifestação da Feifomicose
Diagnóstico

O diagnóstico é feito quando o cisto é excisado cirurgicamente. No exame histopatologico, a aparência é de um cisto inflamatório com uma cápsula fibrosa. Os elementos fúngicos são vistos destro das células. Os organismos podem crescer em cultura e ser identificados pelos seus padrões de esporulação.




Tratamento


O tratamento principal é a excisão cirúrgica. Algumas lesões podem não reagir bem a este procedimento mas normalmente respondem ao tratamento com itraconazol.

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Zigomicose Subcutânea




Zygomycetes

A zigomitose subcutânea é também conhecida como entomoftoromicose e é causada por Zygomycetes. Estes causam uma forma subcutânea crónica de zigomicose que ocorre esporadicamente como resultado da implantação traumática do fungo presente em detritos vegetais nos ambientes tropicais. Podem causar infecções em diferentes sítios, uns nos membros das crianças e outros na zona facial dos adultos.



Sintomatologia


Em certos casos os pacientes infectados têm massas discóides, flexíveis e móveis que podem ser bastante grandes e são localizadas no ombro, na pelve, nos quadris ou nas coxas. As massas podem expandir-se localmente. A disseminação ou o envolvimento das estruturas mais profundas é rara.




Noutros casos a infecção está confinada à área facial. A tumefacção é firme e indolor podendo progredir lentamente para envolver a ponte nasal. A deformidade facial pode ser bastante dramática.

 

Diagnóstico

Os tipos de zigomicose subcutânea requerem biopsia para o diagnóstico. O quadro histopatologico é marcado por grupos focais de inflamação. Os organismos podem ser cultivados do material clínico em meio micrológico padrão.




Tratamento


Os tipos de zigomicose podem ser tratados com itraconazol. Alternativamente, tem sido utilizado iodeto de potássio via oral, em solução saturada. A cirurgia facial reconstrutiva pode ser necessária.




Infecções Fúngicas Subcutâneas

Micetoma Eumicótico

Os micetomas eumicoticos ocorrem maioritariamente nos trópicos. Um micetoma é definido como um processo infeccioso localizado, crónico e granulomatoso envolvendo os tecidos cutâneos e subcutâneos. É caracterizado pela formação  de múltiplos granulomas e abcessos que contêm grandes agregados de hifas fúngicas. Estas hifas contem células que têm modificações marcadas de estrutura interna e externa, variando de novas duplicações da parede celular à formação de uma matriz extracelular cimentiforme dura. Os abcessos drenam-se externamente através da pele. O processo pode ser bastante extenso e deformante. Os agentes etiológicos do micetoma eumicotico abrangem uma ampla variedade de fungos.

  •  Sintomatologia

Manifestação do micetoma eumicótico

Os pacientes com micetoma eumicotico normalmente apresentam uma infecção de longa duração. A lesão inicial parece um nódulo subcutâneo pequeno e indolor que aumenta de tamanho lentamente. Durante o aumento do nódulo também aumenta a área afectada devido à inflamação. Com o passar do tempo os tratos sinusais aparecem sobre a superfície da pele e drenam um liquido serossanguineo. A infecção vai rompendo os tecidos e destrói localmente o músculo e osso.


  • Diagnóstico
O principal aspecto para o diagnóstico do micotoma eumicotico é o aparecimento de grãos ou grânulos. Estes podem ser visíveis na drenagem dos tratos sinusais ou podem ser expressos numa lâmina de vidro ou então ainda por biopsia.


  • Tratamento
O tratamento do micetoma eumicotico é, geralmente, sem sucesso. Resposta dos vários agentes etiológicos à anfotericina B, terbinafina, cetoconazol ou itraconazol é variável e, muitas vezes, fraca, ainda que possa diminuir a infecção. A excisão local é geralmente ineficaz ou impossível, sendo a amputação o único tratamento definitivo. Como geralmente estas infecções são lentas podem ser reduzidas também por terapia anti-fúngica específica. A decisão de amputar deve ter em consideração a rapidez da progressão, a sintomatologia, a disponibilidade da prótese adequada e as circunstâncias individuais do paciente. Por todas estas razões é imperativo diferenciar o micetoma eumicotico do actinomicotico. A terapia médica geralmente resolve os casos de micetoma actinomicotico.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Cromoblastomicose


Também conhecida como Cromomicose, é provocada, geralmente, por fungos pigmentados (demaciáceos) dos géneros Fonsecaea, Cladosporium, Exophiala, Cladophialophora, Pialophora. Este tipo de infecção é mais comum nos trópicos, onde o calor e o ambiente húmido associado a falta de calçado e vestuário apropriado predispõem as pessoas à inoculação directa do solo infectado.
Exophiala jeanselmei, Fonsecaea pedrosoi, Cladophialophora bantiana
  • Sintomatologia
Uma infecção fúngica crónica, envolvendo pele e subcutâneos, caracterizada pelo desenvolvimento de nódulos ou de placas verrugosas de crescimento lento. A maioria das infecções ocorre em homens e envolvem os braços e pernas. No entanto, existem outros locais menos frequentes de aparição de nódulos como ombros, pescoço, tronco, nádegas, face e orelhas.

Cromoblastomicose manifestada no pé de um paciente
  • Diagnóstico
Os característicos nódulos e placas verrugosas permitem ao médico suspeitar de que uma pessoa sofre de cromomicose.
O diagnóstico é confirmado quando são encontradas células muriformes acastanhadas, numa precessão mais superficial, e quando os fungos causais estão presentes, numa precessão mais detalhada. O diagnóstico poderá ser mais demorado, pois ainda não existe nenhum teste serológico para esta doença.

  • Tratamento farmacológico
O tratamento com terapia antifúngica específica é, muitas vezes, ineficaz, devido ao estágio avançado da infecção no momento do diagnóstico. O itraconazol e a terbinafina são muitas vezes associados a flucitosina para um tratamento mais eficaz.


  • Tratamento não farmacológico
A aplicação de calor ou a crioterapia local também se demonstrou eficaz, ao passo que a cirurgia não é indicada devido ao risco de desenvolvimento recorrente dentro da cicatriz. 

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Este tipo de infecção fúngica inclui-se no grupo das micoses profundas, atingindo a derme, o tecido celular subcutâneo, a fáscia e o músculo. As principais infecções fúngicas subcutâneas incluem esporotricose linfocutânea, cromoblastomicose, micetoma eumicótico, zigomicose subcutânea e feoifomicose subcutânea.
Embora a esporotricose linfocutânea seja causada por um único fungo é de realçar que todas as outras micoses subcutâneas são síndromes clínicas causadas por múltiplas etiologias fúngicas.

Diversos fungos podem produzir lesões subcutâneas como parte dos seus processos patológicos. Entretanto, determinados fungos são introduzidos, comummente, de forma traumática através da pele e têm tendência a envolver-se nas camadas mais profundas da derme, do tecido subcutâneo e do osso, sendo bastante incomum a sua disseminação para os órgãos internos.
 Os fungos responsáveis pelas infecções subcutâneas são considerados, habitualmente, com baixo potencial patogénico. Vulgarmente, são isolados do solo, da madeira ou da vegetação em decomposição. O Homem está constantemente exposto a agentes causais de micoses subcutâneas quer por parte do seu ofício quer relacionado com os seus passatempos, por exemplo, jardinagem ou trabalho com madeiras. 

Infecções Fúngicas Subcutâneas

Esporotricose Linfocutânea



Sporothrix schenkii
 É causada por Sporothrix schenkii, um fungo dimórfico, omnipresente no solo e na vegetação em decomposição.
A infecção causada por este organismo é crónica e caracterizada por lesões nodulares e ulcerativas que se desenvolvem junto aos vasos linfáticos que drenam o sítio primário da inoculação. A disseminação a outros locais como ossos, olhos, pulmões e sistema nervoso central é extramente rara.


A esporotricose é, geralmente, esporádica e muito comum em climas mais quentes. As principais áreas conhecidas de endemicidade actual estão no Japão e na América do Norte e do Sul, especialmente no México, Uruguai, Brasil, Peru e Colômbia.
Os surtos de infecção estão relacionados com o trabalho em floresta, em minas e jardinagem.

  • Sintomatologia
Uma afecção da pele e dos vasos linfáticos próximos começa tipicamente como um nódulo pequeno e duro num dedo que aumenta de tamanho lentamente e depois forma uma úlcera. Durante os dias ou semanas seguintes, a infecção propaga-se através dos vasos linfáticos do dedo, da mão e do braço e chega aos gânglios, formando nódulos e úlceras ao longo do trajecto. Em regra não há outros sintomas.

Lesão linfocutânea disseminada pelo braço do paciente 
Uma infecção pulmonar, geralmente naqueles que sofrem de alguma outra doença associada (como enfisema), pode causar pneumonia, com uma ligeira dor no peito e tosse. Com menos frequência, pode ocorrer uma infecção em outras partes do corpo, como os ossos, as articulações, os músculos ou os olhos. Raramente se verifica uma infecção do baço, do fígado, dos rins, dos órgãos genitais ou do cérebro.


  • Diagnóstico
Os característicos nódulos e ulcerações permitem ao médico suspeitar de que uma pessoa sofre de esporotricose.
O diagnóstico é confirmado cultivando e identificando o Sporothrix nas amostras de tecido infectado ou de pus.


  • Tratamento farmacológico
O tratamento clássico da esporotricose linfocutânea é o iodeto de potássio, por via oral em solução saturada. A eficácia e o seu baixo custo tornou-o uma opção favorável especialmente em países em desenvolvimento. No entanto exige uma toma diária durante 3 a 4 semanas com efeitos adversos muito frequentes, tais como erupção cutânea, congestão nasal e inflamação dos olhos, boca e garganta.
A esporotricose que afecta a pele costuma espalhar-se muito lentamente e raramente é mortal. A infecção cutânea é tratada com itraconazol por via oral, fármaco actual de eleição pois mostrou-se seguro e altamente eficaz em pequenas doses. Se a infecção se propagar por todo o organismo e puser em perigo a vida da pessoa, administra-se anfotericina B por via endovenosa; no entanto, segundo os resultados obtidos em grande número de casos, o itraconazol oral revela-se de eficácia igual ou mesmo superior.

  • Tratamento não farmacológico
A aplicação local de calor também se mostrou eficaz. 

Infecções Fúngicas Sistémicas

Coccidioidomicose



Coccidioides immitis
A coccidioidomicose (febre do Vale de São Joaquim ou granuloma coccidioidal) é uma infecção causada pelo fungo Coccidioides immitis, que geralmente afecta os pulmões.



Ocorre quer como uma afecção pulmonar ligeira que desaparece sem tratamento (a forma aguda primária), quer como uma infecção grave e progressiva que se estende por todo o organismo e é frequentemente mortal (a forma progressiva). Esta costuma ser um sinal de que o doente possui um sistema imunitário deficiente, geralmente devido à SIDA.



Os esporos de Coccidioides encontram-se no sudoeste desértico dos Estados Unidos, norte do México e em áreas dispersas da América Central e do Sul.


Ciclo de vida do fungo Coccidioides immitis

  • Sintomas

Os doentes que manifestem uma forma aguda primária, geralmente não apresentam sintomatologia. Se aparecerem sintomas, ocorrerão de uma a três semanas depois de a doença se ter produzido. Estes serão ligeiros, na maioria dos casos, e podem consistir em febre, dor no peito e arrepios. Podem também ter expectoração e ocasionalmente sangue. Algumas pessoas desenvolvem o chamado reumatismo do deserto, uma doença que consiste na inflamação da superfície do olho (conjuntivite) e das articulações (artrite) e na formação de nódulos na pele (eritema nodoso).
Lesões múltiplas na pele,
resultado da disseminação do fungo
nos pulmões

A forma progressiva da doença é quase rara, mas pode desenvolver-se ao longo de semanas, meses ou mesmo anos, depois de verificada a infecção aguda primária ou depois de se ter vivido numa zona onde a mesma é frequente. Os sintomas compreendem febre ligeira, perda de apetite, perda de peso e diminuição da força. A infecção pulmonar pode piorar, causando uma maior dificuldade em respirar. Pode ainda estender-se aos pulmões, ossos, articulações, fígado, baço, rins, cérebro e às membranas que o reveste.



  • Diagnóstico
O facto de se viver numa zona endémica ou que se acabe de regressar de lá pode constituir um facto muito importante para o diagnóstico da doença, no caso de haver sintomas. Posteriormente colhem-se amostras de expectoração ou pus do doente e enviam-se ao laboratório. As análises de sangue podem revelar a presença de anticorpos contra o fungo. Estes anticorpos aparecem no inicio do processo, mas desaparecem na forma aguda primária da doença, persistindo na forma progressiva.



  • Tratamento

A forma primária de coccidioidomicose costuma desaparecer sem tratamento e a recuperação geralmente é completa.

Para os doentes que apresentem a forma progressiva da doença, administra-se-lhes anfotericina B via endovenosa ou fluconazol por via oral. Também se pode administrar itraconazol.
As variedades mais importantes de coccidioidomicose progressiva disseminada são habitualmente mortais, especialmente a meningite (infecção das membranas do cérebro e da espinal medula).

A coccidioidomicose meníngea, usualmente, é tratada com a administração de fluconazol ou itraconazol (sendo que este último configura um fármaco de segunda escolha pela sua reduzida penetração no SNC). A administração intratecal de anfotericina B é recomendada somente no caso de não se obterem resultados com a terapêutica anteriormente referida, uma vez que a toxicidade deste fármaco administrado por esta via é significativa.